terça-feira, 22 de janeiro de 2008

OS 55 ANOS DO LEVANTE POPULAR CONTRA O TOTALITARISMO STALINISTA NA EX-ALEMANHA ORIENTAL



As imagens da luta desigual de 17 de junho de 1953 correram o mundo: manifestantes corajosos, armados só com pedras, tentam deter os tanques soviéticos que avançam sobre Berlim.

A ação dos manifestantes foi vã: graças às armas, as tropas soviéticas e os integrantes da Polícia Popular (Volkspolizei) da República Democrática Alemã (RDA) conseguiram manter a situação sob controle. A rebelião, que levara às ruas em todo o país mais de um milhão de manifestantes contra o regime do Partido Socialista Unitário (SED), desmoronou. A liderança do partido, embora afetada, conseguiu sobreviver graças ao apoio dos soviéticos. Amargo balanço: 50 mortos e centenas de feridos.

Aumento das normas de trabalho

O estopim das graves turbulências foram o anúncio do governo de um aumento de dez por cento nas normas de trabalho na indústria e de um encarecimento drástico dos gêneros alimentícios. A política do SED de "construção planejada do socialismo" levara a RDA a uma profunda crise, em fins de 1952. A coletivização da agricultura, o desenvolvimento acelerado da indústria pesada e o pagamento de reparações de guerra debilitaram o desempenho econômico do sistema.

Fuga para o oeste

O abastecimento da população em toda a RDA tinha piorado consideravelmente, nos meses que antecederam o 17 de junho. Os governantes da RDA ordenaram medidas drásticas de contenção de gastos em todos os setores. Cada vez mais cidadãos da RDA deixavam o país por motivos políticos ou econômicos e iam tentar a sorte no Ocidente. No início de 1953, o número chegou a 30 mil por mês.

Greve geral

Nos últimos dias de maio e início de junho, os primeiros descontentes começaram a realizar paralisações de trabalho. Por fim, a grande onda de protestos deslanchou quando milhares de trabalhadores da construção civil protestaram contra as reduções de fato no salário, formando a 16 de junho uma longa passeata pelas ruas de Berlim Oriental.

Diante da Casa dos Ministérios, mais de dez mil pessoas reivindicavam o cancelamento do aumento das normas de trabalho, convocando para o dia seguinte uma greve e uma assembléia geral dos trabalhadores. Nessa tarde, a manifestação ainda se dispersou pacificamente.

Liberdade, democracia e unidade

No dia 17 de junho, mais de um milhão de pessoas participaram de manifestações e greves em 700 cidades e comunidades da RDA. Ao lado de passeatas pacíficas, ocorreram aqui e acolá ataques a escritórios do partido e a prisões, neste caso com a libertação de prisioneiros.

A rebelião por melhores salários transformou-se rapidamente num levante pela liberdade, democracia e a unidade da Alemanha. Em faixas, os trabalhadores reivindicavam, além de melhores condições de vida, a renúncia do governo da RDA, eleições livres e a reunificação do país.

Repressão violenta

Em Berlim Oriental, o centro das turbulências, a situação escalou. Os governantes da RDA perderam o controle sobre a situação, solicitando auxílio dos soldados soviéticos estacionados no país. Durante muito tempo, não se soube ao certo qual tinha sido o papel do governo na repressão da revolta.

Documentos que se tornaram acessíveis recentemente esclarecem que Otto Grotewohl (primeiro-ministro da RDA) e Walter Ulbricht (secretário-geral do SED) pediram expressamente aos soviéticos, na madrugada do 17 de junho, o envio de tropas à capital. No dia 17, militares soviéticos avançaram com tanques contra os manifestantes desarmados. Em alguns pontos da cidade (Friedrichstrasse e Potsdamer Platz), chegaram a atirar contra os trabalhadores, fazendo a multidão sair correndo em pânico.

Nos dias subseqüentes, cerca de dez mil manifestantes e membros do comitê de greve foram presos. Pelo menos dois condenados à morte foram executados. Mais de 1600 participantes cumpriram em parte longas penas de prisão. Walter Ulbricht, que não era visto com bons olhos pelo politburo e pela liderança soviética, conseguiu consolidar seu poder.

Feriado nacional

Algumas semanas após a revolta, o Bundestag - parlamento da Alemanha Ocidental - proclamou o 17 de junho como Dia da Unidade Alemã. Após a reunificação do país em 1990, esse feriado passou a ser comemorado a 3 de outubro. Desde então, quase ninguém mais se lembra da rebelião de 1953.

Crônica dos acontecimentos de 17 de junho de 1953

7 de outubro de 1949:

É fundada a República Democrática Alemã (RDA).

9 a 12 de julho de 1952:

Na 2ª Conferência do Partido Socialista Unitário (SED), o secretário-geral Walter Ulbricht anuncia a "construção planejada do socialismo", segundo o modelo soviético.

3 de fevereiro de 1953:

O Comitê Central do SED decide uma "campanha por uma severa redução de gastos" na economia estatal do país.

5 de março de 1953:

A morte de Stalin leva à insegurança e lutas pelo poder na liderança de inúmeros países do Bloco Oriental.

20 de abril de 1953:

O Conselho de Ministros da RDA decide um aumento draconiano dos preços de gêneros alimentícios, tais como carne, embutidos, derivados de açúcar e outros produtos em falta no mercado.

15 de maio de 1953:

Em sua 13ª Conferência, o Comitê Central do SED decide aumentar em pelo menos dez por cento as normas de trabalho em todas as empresas estatais, até 30 de junho.

29 de maio de 1953:

A liderança da RDA anuncia o aumento das normas de trabalho.

9 de junho de 1953:

O politburo do SED anuncia um "novo rumo", prometendo à população melhorias consideráveis no cotidiano. Alguns erros do passado são admitidos, devendo a repressão diminuir.

16 de junho de 1953:

Segundo artigo publicado no jornal sindicalista Tribüne, o SED pretende manter o aumento das normas de trabalho decidido em fins de maio, mesmo no contexto do "novo rumo". O artigo provoca protestos de trabalhadores da construção civil em Berlim Oriental, que caminham em passeata até a Casa dos Ministérios, exigindo negociações com o governo. A notícia da manifestação propaga-se com rapidez por quase toda a RDA.

17 de junho de 1953, pela manhã:

Têm lugar em quase 700 localidades, em toda a RDA, manifestações, greves e confrontos entre a população e o poder estatal. Os protestos realizam-se principalmente em grandes empresas e focos tradicionais do movimento trabalhista, em especial em Berlim, Halle-Bitterfeld, Leipzig, Magdeburg, Görlitz e Iena. A população assalta prisões e liberta os prisioneiros. Em Berlim, dois homens retiram a bandeira vermelha da Porta de Brandemburgo e a rasgam, sob os aplausos da multidão. Os rebeldes não são coesos em suas reivindicações, que vão desde o cancelamento das normas de trabalho e melhoria do padrão de vida até metas políticas, tais como eleições livres, renúncia do governo e substituição dos líderes políticos.

17 de junho, meio-dia:

Tanques soviéticos avançam sobre Berlim e outras cidades. Os militares promulgam o estado de exceção e usam da violência contra os manifestantes. A partir das 13 horas, ficam proibidas todas as manifestações e demais aglomerações a céu aberto ou em edifícios públicos. Entre as 21 e as 5 horas vigora a proibição de sair às ruas. Ao todo, mais de 20 pessoas morrem nos confrontos.

18 de junho de 1953:

Em julgamento sumário, o operário Willy Götting é condenado à morte por participação na revolta e imediatamente executado. Ao todo, são presas 7663 pessoas, sendo condenados 1526 réus.

21 de junho de 1953:

Em sua 14ª Conferência, o Comitê Central do SED admite erros internos e decide cancelar o aumento de preços e de normas de abril e maio, respectivamente, aumentar as aposentadorias mínimas, bem como disponibilizar mais bens de consumo.

24 a 26 de julho de 1953:

A 15ª Conferência do Comitê Central do SED conduz à destituição de Wilhelm Zaisser, Rudolf Herrnstadt e Max Fechner, críticos de Ulbricht, o qual consolida seu poder.

Fonte: DW-World

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