sexta-feira, 23 de outubro de 2009

O socialismo petista

O PT - Partido dos Trabalhadores, é defensor do socialismo democrático. É claramente influenciado pelo pensamento marxista, em especial pela sua vertente conhecida como "eurocomunismo". Entretanto os petistas não se organizam segundo o modelo autoritario desenvolvido por Lenin, garantindo o pleno direito de tendências permanentes se organizarem no partido. E ao contrário dos esquerdistas, que ficaram parados no tempo, como se ainda estivessemos nas duas primeiras decadas do século XX, os petistas não se deixaram levar pelo dogmatismo e reconhecem que ocorreram mudanças no modo de produção capitalista, que longe de simplificar, possibilitaram uma maior complexidade na luta de classes.

Os trabalhadores e seus aliados(campesinato e pequena-burguesia), não podem temer o jogo democrático e a política de alianças com setores progressistas e nacionalistas da burguesia, no intuito de derrotar o projeto neo-liberal e assim iniciar a construção de uma hegemonia socialista na sociedade. E mais, como o próprio Engels já havia dito na introdução a "Luta de Classes na França", publicado em 1895, acabaram-se os tempos das grandes revoluções, o socialismo será construido processualmente, através de reformas de caráter revolucionário.

O PT assume a defesa da democracia como valor universal, sendo portanto um partido socialista do século XXI.

O PT e o Brasil
Emiliano José*

O nascimento do PT, que comemora 29 anos este mês, dá-se no momento da aurora do neoliberalismo com sua promessa de redimir o mundo pelo mercado. No trajeto, coisa de uma década depois, o abalo da derrocada da União Soviética.

Logo ao nascer, o PT disse a que vinha: a luta pelo socialismo era indissociável da luta pela democracia. Não mais a ditadura do proletariado. Não mais o sacrifício das liberdades em favor de conquistas sociais.Até aqui, uma rica trajetória. Já há muito que comemorar. Constituiu-se num dos maiores partidos de massa do Ocidente, talvez o maior. Não mais o partido de quadros. Não o modelo leninista. Defesa da democracia para a sociedade. Democracia também no interior do partido.

Abertura para o debate. Nasceu impulsionado por três forças motrizes: a esquerda revolucionária egressa da luta contra a ditadura, a corrente progressista da Igreja Católica e principalmente o novo sindicalismo que despontava no ABC paulista.Essas três forças foram plasmando um partido que se mostraria vocacionado para governar o Brasil. Demorou algum tempo, no entanto, para descobrir os caminhos que o levassem a ser a força política hegemônica da sociedade brasileira.

Depois de muitos tropeços e equívocos, compreendeu que um sonho que se sonha só é apenas um sonho. Chegar ao poder, governar o Brasil exigia amplitude, capacidade de fazer alianças com os diferentes.A revolução deixava de ter data marcada. Não mais a quimera do grande dia da conquista do céu. A transformação do País seria fruto de uma paciente construção cotidiana. Guerra de posição. Não mais o assalto ao Palácio de Inverno. Gramsci assume o lugar antes ocupado por Lênin. As classes trabalhadoras tinham que ser conquistadas e conquistar corações e mentes da sociedade brasileira. As forças do atraso eram muito mais fortes do que pretendia o jovem PT.Governar o Brasil era a grande meta, o sonho dourado. E o grande desafio, hoje encarado.

O PT lidera hoje no País uma revolução. A revolução democrática. Produz, ao lado dos aliados que soube conquistar, transformações nunca antes vistas na sociedade brasileira. Mais de 20 milhões de pessoas retiradas da miséria absoluta. Autonomia cidadã. Afirmação das liberdades e da soberania nacional, respeito à diversidade. Clareza de que é longa a estrada que tornará o Brasil uma sociedade justa e fraterna. Certeza de estar hoje promovendo políticas públicas que representam passos seguros nessa direção.

Lula não será mais candidato em 2010. A importância do partido cresce ainda mais. Dele se exigirá muita lucidez para que a revolução democrática não seja interrompida. O PT terá, de um lado, que aumentar sua coesão interna, afirmar sua vocação democrática e socialista. De outro, persistir na compreensão de que as alianças à esquerda e ao centro continuam indispensáveis. As responsabilidades crescem. A sociedade brasileira espera que o PT esteja à altura delas.

Publicado em A TARDE de 16/02/2009

* Emiliano José é deputado federal(PT/BA), jornalista e escritor. Email: emiljose@uol.com.br

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